segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ruy Barbosa - Um quadro com História

Tenho colocado aqui alguns assuntos que são geralmente ilustrados com fotos, algumas delas feitas por mim mesmo, outras extraídas de páginas da internet sempre com o devido cuidado de identificar sua autoria. Todas as formas de representação que possam de algum modo valorizar o tema proposto, afinal é voz geral que “uma imagem vale mais que mil palavras”, as tenho utilizado e não somente fotos, mas também desenhos ou reproduções de pinturas famosas, ou nem tanto, sempre que tenha algo a ver com o assunto.

Guernica a obra de Picasso foi fruto de sua dor diante do sofrimento
de seus conterrâneos.

Estou certo de que cada autor, seja de uma foto ou de determinado trabalho colocado em tela, terá alguma coisa a dizer do impulso que o levou a realizar sua obra. A foto é fruto de um momento único em que alguém com uma câmera na mão - fantástica invenção que evoluiu inimaginavelmente - que  se sente atraído naquele instante por alguma coisa à sua frente e cuja imagem resolve “aprisionar” para posteriormente relembrar ou compartilhar com outras pessoas, sem falar dos inúmeros registros de acontecimentos felizes ou trágicos do cotidiano.
Seja qual for o objetivo de cada uma dessas manifestações, haverá sempre uma história sobre a razão de ter sido elaborada. É justamente uma dessas histórias que escolhi como tema para esta postagem.
Creio que o personagem retratado a seguir é bastante conhecido de todos nós, pois se trata de um dos brasileiros mais importantes em nosso País.

Ruy Barbosa de Oliveira - Jurista, Político, Diplomata e Escritor,
um dos intelectuais mais brilhantes de seu tempo, foi também, Deputado, Senador e
Ministro da Fazenda.


Ruy Barbosa, assim como seus feitos e importância no contexto histórico nacional, dispensa maiores comentários, mas uma de suas imagens mais conhecidas, um quadro pintado a óleo sobre tela, que aparece publicada em livros didáticos ou qualquer notícia relacionada com ele, essa sim, tem uma origem que vale a pena ser contada.

Foi no dia 5 de março de 1923 que uma nota no jornal da capital baiana “A Tarde”, em virtude da morte desse grande jurista, dava conta da existência desse quadro que o retratava. No canto inferior esquerdo da segunda página daquele periódico, em meio a tantas outras manifestações de condolências, uma delas convidava o povo baiano a prestar sua derradeira homenagem ao conterrâneo ilustre, diante de uma bela pintura exposta ao público no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.


O Quadro com História.

A nota no jornal fazia referência ao artista Lucílio de Albuquerque como autor daquela obra e apenas a certo Dr. Nogueira como sendo o doador dela ao IGHB. É evidente que naquele triste momento maiores detalhes sobre a origem desse quadro foram omitidos. Anos depois disso, diante da ignorância involuntária dessas informações àqueles que buscavam tais detalhes, ficamos sabendo que o pintor, pernambucano e professor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, a quem foi pago a quantia de Rs. 3.000$000 (três contos de réis), foi escolhido entre outros artistas que atenderam a um anúncio em antigo jornal do Rio de Janeiro. Para nossa surpresa tal anúncio havia sido mandado publicar por Miguel Carneiro Rodrigues Nogueira, jovem médico baiano natural de Serrinha, correligionário e amigo particular de Ruy Barbosa que, a despeito do apoio dado a seu adversário político por seu pai Antonio R. Nogueira durante a eleição presidencial de 1910, o tinha como seu ídolo.

Miguel Nogueira e sua esposa Anita.

Originalmente, e de acordo com o objetivo de Miguel Nogueira, esse quadro deveria compor em sua época, dezembro de 1916, a galeria de personagens importantes do Senado Federal no Rio de Janeiro, sede do Poder Executivo da República nos anos de 1897 a 1960. Devido a contratempos não somente de ordem burocrática mas principalmente política, seu objetivo não foi alcançado. Por fim o quadro foi doado por ele ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e está lá para ser apreciado até os dias de hoje.

O belo quadro que Dr. Miguel Nogueira mandou pintar.

Em recente visita que fiz ao IGHB foi possível ver de perto esse quadro. Na ocasião fiz chegar às mãos de sua diretora Consuelo Pondé de Sena um pequeno encarte com o histórico completo da obra que Dr. Miguel Nogueira mandara executar.

Editando em 8 de agosto de 2018

Após tornar conhecida a vários sobrinhos netos de Miguel Nogueira, assim como fiz um deles, Moacyr José Rodrigues Nogueira esteve no IGHBa e repetiu o feito. Nada mais justo que a foto que fez também faça parte dessa publicação.

Moacyr José Rodrigues Nogueira e o quadro de Ruy Barbosa.

Além disso, ele conseguiu que lhe fosse mostrado um dos exemplares da Revista Ilustrada da Bahia, na qual um artigo menciona justamente a doação que Miguel Nogueira fez desse quadro.

Aí está o Dr. Miguel Carneiro Rodrigues Nogueira.
Doador do quadro de Ruy Barbosa.

Falar do quadro e de quem o encomendou poderia ser suficiente para o que está sendo proposto nesta história. Mas estou certo de que nada ficaria completo se não conhecêssemos alguma coisa da vida do pintor que com tanta precisão elaborou essa obra.
Lucílio de Albuquerque, nasceu aos 9 de maio de 1877 no pequeno município de Barras, no estado do Piauí de onde parte, ainda bastante jovem, para estudar em São Paulo. Ingressa e por pouco tempo frequenta a Faculdade de Direito. Deixa o curso e atendendo à sua verdadeira vocação vai para o Rio de Janeiro onde passa a frequentar a Escola Nacional de Belas Artes.
Em 1906 o jovem acadêmico participa de um concurso promovido nessa mesma escola e recebe o “Prêmio de Viagem da ENBA” pelo trabalho “Anchieta escrevendo o poema à Virgem”, realizado em óleo sobre tela.

Esse prêmio o leva até a França, onde frequenta em Paris a Academia Julian de Pinturas, juntamente com Georgina de Albuquerque, sua colega de Academia com a qual havia casado. Na França ambos permanecem estudando por cinco anos e é lá que nascem suas duas filhas.
De volta ao Brasil, em 1911 no Rio de Janeiro, juntamente com a esposa Georgina Albuquerque, promove uma exposição de seus trabalhos na mesma ENBA. Nesse mesmo ano se torna professor de Desenho Figurado na mesma instituição onde estudou.
Além de tudo, Lucílio se destaca como paisagista e principalmente como retratista, o que teria chegado ao conhecimento de nosso Miguel Nogueira que o contrata para ser o autor do retrato do insigne brasileiro Ruy Barbosa.

Lucílio de Albuquerque, dona Georgina e filhos em França.

Sua esposa, a pintora Georgina Albuquerque, iniciou os estudos em pintura quando contava apenas 15 anos de idade, no ano de 1900 na cidade de Taubaté onde nascera.
Foi considerada uma das primeiras mulheres brasileiras a firmar-se internacionalmente como artista do gênero pintura. Além disso foi também pioneira na pintura histórica nacional revelando toda sua técnica ao expor em 1922 a brilhante obra denominada “Sessão do Conselho do Estado”, que retrata a sessão de 2 de setembro de 1822, precedente à declaração de independência do Brasil.

Em destaque no quadro a princesa Maria Leopoldina e Conselheiros.
A obra premiada de Georgina de Albuquerque em 1922


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Um comentário:

  1. Marcos, gosto muito de pesquisar historia relacionado a Serrinha, encontrei essa preciosidade que é "o quadro com história".
    Peço licença a você, pois publiquei o mesmo no meu site: www.serrinhahoje.com.br

    Agnaldo (Haguil)

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